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Ao falar de arte, estamos discutindo estética ou Filosofia da Arte?
O termo “estética” começou a ganhar relevância um pouco antes de Kant, mas foi com ele que se consolidou. Antes disso, a discussão sobre arte estava mais associada à noção de “gosto”. Filósofos debatiam o que era o belo e o feio, sempre ligados à percepção individual e ao prazer que a arte proporciona — um prazer que se distingue do prazer sensível. A palavra-chave era gosto, e os principais questionamentos eram: o belo está vinculado ao que gostamos? Ou ao que nos causa prazer?
Alexander Baumgarten, contemporâneo de Kant, cunhou o termo “estética” como a “ciência da percepção”. Ele acreditava que, ao focar apenas no gosto, estaríamos confinados a uma esfera subjetiva, sem a possibilidade de universalização. Daí sua tentativa de criar um campo de investigação capaz de compreender o belo de maneira mais ampla. Kant, no entanto, ao adotar o termo “estética”, conferiu-lhe um significado mais profundo; para ele, nossa percepção está intrinsecamente ligada às categorias de espaço e tempo, e o conhecimento que adquirimos do mundo está limitado a essas condições. A beleza, segundo Kant, não está vinculada a uma ideia fixa, mas ao sentimento que ela desperta no observador.
No entanto, o filósofo escocês David Hume já havia afirmado que o gosto poderia, sim, ser discutido, apesar de existirem múltiplos padrões culturais. Kant entra nessa discussão ao afirmar que, embora não exista uma ideia universal do belo, existe um elemento racional na maneira como nos relacionamos com a arte. O que realmente importa, para ele, é a maneira como os objetos nos afetam emocionalmente, e como comunicamos esse impacto.
A Crítica da Faculdade de Julgar de Kant explora como somos afetados por objetos e de que forma podemos transmitir esse sentimento. O juízo estético, para Kant, é uma tentativa de traduzir o impacto emocional em termos racionais, embora a beleza em si não possa ser conceitualizada.
Com Hegel, a discussão toma outro rumo. Ele sugere que o termo “estética” seja substituído por “Filosofia da Arte”, pois, para ele, o mais importante é o conteúdo da arte e sua evolução histórica. Diferente de Kant, que não acreditava na existência de uma ideia fixa do belo, Hegel propõe que a arte e a ideia do belo evoluem ao longo do tempo, sempre buscando uma expressão mais completa. Para ele, a história da arte é uma demonstração filosófica de como a forma e o conteúdo (a ideia do belo) interagem ao longo dos séculos.
Enquanto Kant foca no sentimento e na subjetividade do juízo estético, Hegel insiste que a arte deve ser entendida a partir de sua evolução conceitual e histórica, em busca de uma expressão cada vez mais refinada da ideia do belo.
É verdade que há outras teorias mais novas e que para alguns têm mais sentido. Mas, as bases foram lançadas por eles e três importantes livros nos ajudam a entender os primórdios deste debate:
HEGEL, Georg Wilhelm Friedrich. Estética: Lições sobre a Filosofia da Arte. Lisboa: Edições 70, 2014.
HUME, David. Do Padrão do Gosto e Outros Ensaios sobre as Artes e a Beleza. Edições 70, 2023.
KANT, Immanuel. Crítica da Faculdade de Julgar. Tradução de Valerio Rohden e Antônio Marques. Petrópolis: Vozes, 2016.

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